A luta da mulher para ocupar novos espaços

 A luta da mulher para ocupar novos espaços

Foto: (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Mulheres, neste 8 de Março, e em todos os outros dias, precisamos ocupar os espaços de poder! Necessitamos conquistar mais cadeiras nas câmaras e assembleias legislativas, mais prefeituras e governos, secretarias e ministérios e, sim…, precisamos estar prontas para construir debates, emitir e formar opiniões, nos posicionar contra todas as iniquidades e defender o direito à vida e à saúde.

Carecemos estar fortalecidas para fazer nossas vozes ecoarem contra quem defende o direito de matar e milita a favor da necropolítica. Hoje, corpos se acumulam em valas comuns, por causa de uma doença que poderia ter sido controlada com mais rapidez, caso houvesse interesse, conhecimento, capacidade e, minimamente, responsabilidade com o exercício do poder.

Nós que, ao deixarmos nossos filhos todos os dias, nos perguntamos se vale a pena cuidar do outro enquanto não sabemos se em casa, eles estarão devidamente seguros e protegidos. Permanecemos com salários menores que os homens e, no setor saúde,  especialmente na enfermagem, com força de trabalho eminentemente feminina, preta e pobre, temos os salários mais aviltantes, e continuaremos a ter, caso não ampliemos nossa luta e participação política. Temos que agir de forma consciente para a dilatação do exercício do poder, de forma participativa, consciente, coletiva e agregadora, como soem fazer as mulheres em todos os seus espaços de atuação.

E, por falar em filhos, outro dia minha filha de dez anos me perguntou: “quando vou poder sair de casa sozinha para passear com minhas amigas?”. Demorei alguns segundos pra respondê-la. Enquanto isso, um filme passou pela minha cabeça! Me lembrei de todos os medos e constrangimentos a que fui submetida quando precisei usar o transporte coletivo, de quantas vezes – indo ao trabalho – tive que mudar de calçada ou sair correndo pela rua, pois havia o risco real e iminente de ser violentada e, mesmo depois de adulta,  de como fui verbalmente agredida por me negar a sair ou dançar com um homem pelo qual não tinha interesse e como isso soou afrontoso, como se eu fosse obrigada a aceitar fazer e satisfazer o desejo deles… resquícios ainda fortes do machismo arraigado da nossa sociedade!

Mas, a pergunta da minha filha me fez enxergar que o mundo não é, e nem nunca foi, gentil com as mulheres (nem com nenhuma das minorias!). Me fez lembrar que vivemos no Brasil, país que elegeu (com 46% de votos femininos!) para o cargo de mandatário supremo, um homem branco, ex-militar, ex-deputado, com quase 30 anos de exercício parlamentar medíocre, referência de todos os tipos de manifestação de preconceito, inclusive muito destacadamente, a misoginia! Que nega todos os princípios da ciência, faz pouco da vida humana e não se responsabiliza nem mesmo pela própria conduta e no quanto ela influencia os demais, quiçá dos seus deveres enquanto chefe de Estado.

Mas o questionamento da minha filha, e a sua ânsia por liberdade embutida na pergunta, “quando serei livre para ir, vir e  fazer minhas escolhas”, me fez compreender também que é preciso educar as mulheres do presente e do futuro para compreender que nossas escolhas representam numericamente a maioria e podem ser definidoras de rumos e fazer toda a diferença sobre quem ocupa esses espaços de poder. Me fez enxergar além, que ainda precisamos acordar todos os dias prontas para lutar e conquistar nosso espaço e enfrentar as diferenças de salário, o medo da violência física e sexual, a luta pelo emprego e pela qualificação profissional e, por fim, a batalha pelos espaços políticos e de poder, de forma incansável! 

Luzinéia Vieira é enfermeira, servidora da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, integra o Conselho Estadual de Saúde e ocupa o cargo de vice-presidente do Sindsaúde-GO.     

    

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