Debate entre as entidades sindicais de Goiás e o DIEESE

 Debate entre as entidades sindicais de Goiás e o DIEESE

Publicado em 22 de junho de 2020, às 18h20

Os impactos da pandemia na economia brasileira e os reflexos nas diversas classes de trabalhador@s em Goiás foram hoje (22) discutidos entre as entidades sindicais do Estado e a facilitadora, a economista e técnica do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), Leila Brito.

Nas palavras da economista os efeitos da covid-19 com a parada súbita das atividades econômicas com os impactos devastadores e a retração do Produto Interno Bruto (PIB),  gerou uma crise profunda na cadeia de insumos, com a taxa de desocupação (desempregados) que cresceu de 11,6 % para 12,65% ( 12,9 milhões de pessoas nesta situação). O aumento de pedidos no Programa Bolsa Família ( 1.200 mil ) é um indicador no crescimento exponencial da pobreza dos brasileiros (as), assim como crescem os números de contaminados e vítimas pelo novo coronavírus.

“Excelente o Dieese discutir semanalmente o atentado à democracia que vai se agravar em todos os setores da economia. Na saúde pública o Sindsaúde vivência junto aos trabalhador@s uma situação dramática, não teremos leitos, medicamentos e força de trabalho, muitos já estão contaminados. E o Governo Federal não toma atitude, o adoecimento físico e mental dos trabalhador@s da saúde é do tamanho do desrespeito dos políticos e dos órgãos responsáveis, que elegemos para proteger nosso direito à saúde pública e a vida. Uma Reforma Tributária justa e solidária com taxação das grandes fortunas, renegociação da dívida pública, só podem ser visíveis se o movimento sindical organizado mostrar que há outra formas para se levantar recursos sem prejudicar os trabalhador@s e no sentido de salvar vidas, enfatizou Ricardo Manzi, Presidente do Sindsaúde-GO.   

Todos esses pontos da economia foram analisados no contexto das medidas insuficientes do Governo Federal que resultam no maior caos sanitário da história brasileira e nas mais de 50 mil vítimas brasileiros (as) pela Covid-19. Somos mais de um milhão de contaminados, números do descaso da equipe econômica de Governo e do  Presidente, Jair Bolsonaro, sem partido.

A situação segundo Leila Brito, já era grave para os trabalhador@s devido as Reformas Trabalhista e da Previdência, que retiraram direitos trabalhistas importantes, instituíram o trabalho informal e acentuaram as desigualdades sociais no Brasil. O cenário pode ser pessimista mas é real e conhece-lo é muito importante.

Já estávamos em uma situação muito ruim, com a economia crescendo pouco. Com os números da contaminação pela covid-19 crescendo a trajetória declinante de vários setores da economia acelerou essa situação que é de calamidade. O setor privado foi muito achatado pela crise. Os números de trabalhador@s informais caiu. Saíram da situação de desocupação, para o desalento porque 25,6% subutilização do trabalho, emprego de natureza precária e sem proteção social para os trabalhador@s intermitentes. Foram de 67 para 70 milhões de trabalhador@s em situação de desalento, superior a 2016 (5 milhões).

Em Goiânia, uma série de empresas dentro e fora dos shoppings e de centros comerciais já fecharam suas portas, situação de impacto e de desalento no comércio também é geral.

Na realidade o próprio empresário que pede o retorno das atividades, está vendo que não é hora de voltar ao normal.

A pandemia não vai durar pouco tempo e vai afetar cada vez mais a economia, os trabalhador@s e a população mais precarizada.  

Combater as ilusões e fazer a economia funcionar, fazem parte de uma análise das medidas que outros países no mundo tiveram de assegurar proteção social, da percepção que implique na distribuição de renda, no combate da renda concentrada. Importante aprofundar nessas soluções. Participaram da reunião os sindicalistas, Fátima Veloso, Ivanilde Vieira dos Santos, Railton Nascimento, Irani Tranqueira, Erivânio Herculano da Silva, Flaviana Alves Barbosa e Ricardo Manzi- Sindsaúde-GO, José Brom Carrijo-SOEGO, Marcus Vinícius – Sindjustiça, Jeovano Bertolotte Xavier-SINDAGRI e Roberta Reis (DIEESE).

As reuniões do DIEESE e das entidades sindicais goianas são transmitidas todas as segundas-feiras, no facebook do Sindsaúde-GO.

Para saber além, leia o Artigo comentado de Clemente Ganz Lúcio, sociólogo, Diretor Técnico do DIEESE.

Previsibilidade e a segunda onda da crise sanitária
Clemente Ganz Lúcio
Quando tudo vai acabar? A resposta, uma data ou uma certeza, ajudaria a criar força
para resistir. Todos buscamos previsibilidade, probabilidade e perspectiva diante da
crise sanitária do COVID-19 e suas consequências econômicas e sociais. Predizer o
futuro: o emprego estará garantido? O salário chegará? As empresas podem retomar
em breve? Os governos poderão flexibilizar o isolamento? Quando haverá remédio e
vacina? Respostas seguras exigem investimento, trabalho coordenado, cooperação e
inteligência aplicada na forma de ciência e diálogo voltados para o bem comum.
O novo coronavírus revela-se veloz no contágio. Através da circulação de pessoas
pelo mundo chegou a todos os cantos do planeta em poucas semanas. Sem remédio
eficaz e sem vacina para imunização, tem rápida e alta letalidade.
Os países que bem organizaram o difícil processo de isolamento estão colhendo
bons resultados: controle da infecção, diminuição do contágio e queda do número de
mortes. O isolamento abre um tempo precioso para planejar a luta de todos contra esse
inimigo invisível e desconhecido. Realizar investimentos no sistema de saúde, produzir
e orientar o uso de equipamento de proteção e difundir os protocolos de distanciamento
social; organizar a proteção à saúde dos trabalhadores em atividades essenciais e
planejar a retomada segura das atividades para um momento futuro. Investir em
pesquisas para inventar remédio e vacina. No isolamento, usar o tempo para construir
saídas.
Por isso, a previsibilidade desejada e requerida é construída com inteligência de
gestão, investimento na criação de medidas e procedimentos, na cooperação entre
governantes, gestores públicos, empresas, sindicatos e comunidades. Comitês
multipartites de gestão da crise com assessoria de grupos científicos são essenciais.
Quem apostou na cooperação, na ciência e investiu na coordenação e mobilização está
colhendo bons resultados.
No Brasil o Governo Federal aposta em outra estratégia na qual joga com o
confronto, a descoordenação, a desinformação, a competição com os entes federados
e o descrédito da ciência. O país insiste em seguir na contramão dos casos de sucesso
no combate a esta pandemia. Repudiado no mundo, aqui o genocídio tem cara e
método. O Governo Federal dividiu quando deveria unir, competiu quando deveria
cooperar, concorreu quando deveria colaborar, desorganizou quando deveria
coordenar. Essa estratégia dará vitória à morte, destruirá a economia e produzirá o caos
social.
E daí? afirma o Presidente da República!
Abrem-se valas para enterrar os milhares, pobres e trabalhadores, que tombaram
na linha de frente comandada pela governança da morte. O Brasil já disputa o topo da
lista do pior caso de gestão dessa crise no planeta.
Perdeu-se no país precioso tempo nos isolamentos iniciados em março e que agora
seguem para a flexibilização. Não temos o SUS ampliado e atuando nacionalmente com
as equipes de saúde da família na prevenção; não há estruturas locais suficientes para
o isolamento; é limitada a capacidade de atendimento dos hospitais; não existe um
sistema coordenado de rastreamento do vírus, nem método difundido de isolamento;
faltam controles e testes em massa. O isolamento abriu tempo para fazer todas essas
coisas. Fez-se pouco diante do que era necessário.
O contágio continua crescendo e o número de mortes aumenta a cada dia. Os
governos locais cedem às pressões e começam a flexibilizar o isolamento, o fluxo de
pessoas explode, as proteções prometidas inexistem na maioria dos casos. No caos, o
invisível vírus mobiliza o espectro da morte na segunda onda de contágio e de óbitos.
Cidades e estados já colhem resultados e enterram seus mortos. Uma crise humanitária
sem precedentes ganha a cada dia mais crueldade.
Previsibilidade nessa dinâmica? A que temos é que até agosto serão 120 mil mortes
e 200 mil até o final do ano!
Prognóstico: medo, insegurança e recuos. A economia passará a operar em uma
dinâmica de sanfona, abrindo e fechando as atividades, dinâmica que mata empregos
e empresas. A paralização da atividade produtiva nessa primeira fase de isolamento,
em uma economia que já vinha cambaleante, indica uma recessão com queda de 10%
no PIB neste ano. Uma economia em queda e que opera em sanfona, abre a porta para
a depressão econômica.
Probabilidade: caos social e conflitos que abre a possibilidade para aventuras
políticas autoritárias.
Não se pode voltar no tempo e fazer o que não se fez. É preciso olhar para frente.
Poderíamos ter evitado a capotagem tão grave da economia. Não há mais como evitar
o que já está em curso. Há que mitigar os danos, cuidar dos estragos e das destruições.
Retomar o caminho o já!
Criando comitê nacional de gestão da crise com a participação de governadores,
secretários, de cientistas e especialistas, para promover um novo e bom plano de
atuação para a proteção da vida de todos e, em paralelo, a proteção das empresas, dos
empregos e da renda.
Mobilizar a proteção da democracia e manter funcionando bem as instituições do
Estado Democrático de Direito.
A sociedade civil e política deve investir na coordenação das ações, na cooperação
entre iniciativas e planos, na articulação e integração de projetos e propostas.

 

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